23 agosto 2011

Uma casa no campo


Ela queria um casa no campo. Não muito grande, nem muito pequena. Apenas que todos coubessem inclusive todos ao mesmo tempo na sala.
Uma lareira para os dias frios, uma rede para baloiçar nos dias mornos e uma mangueira para refrescar os dias quentes. Que a paisagem fosse uma natureza sem fim, com cheiro de terra na chuva, pôr-do-sol avermelhado e um céu estrelado. As couves viriam do quintal, a água pura do riacho, as frutas do pomar, e os animais correriam soltos sem se preocuparem com o amanhã.
Ele nem imaginava como seria uma casa de campo. Estava bem onde estava e nunca conhecera uma.
Ela desenhava, pintava, bordava e esculpia o seu sonho. Nuns dias, aparecia um arco-íris, noutros um gato no parapeito da janela, um bem-te-vi no cimo de um pinheiro, uma bolinha de pelo sendo encharcado por uma criança... Os dias mais feios tinham lareira, cheirinho de pão, gosto de chá quente e cor de cobertor.
Os dias ensolarados tinham às vezes piscina, outras um lago, uma cabana feita para brincar, um piquenique com toalha xadrez e guloseimas numa cesta de vime, um baloiço na sombra de uma árvore...
Afinal, para ela só na casa de campo se via a Primavera florida, o Verão doce, o Outono sem folhas e o Inverno aconchegante. É que se sentia a brisa fresca, o sol aquecer, o poder da sombra, o gelar da água, o cheiro das árvores, o sabor da comida... Lá conseguia-se ver uma minhoca fugir, uma planta brotar, uma coruja caçar, um rio nascer, um bolo assar, o dia nascer, o vento soprar...
Em silêncio ela fez as malas, escondeu-as no armário. Sabia que em breve teriam um sótão. Lá guardaria tudo o que trouxera do passado e apenas aquele cantinho conheceria seus segredos. Abaixo deles existiria apenas uma casa de campo, apenas com os seus sonhos.