30 julho 2023

Silêncio

Quando o silêncio é longo, 
a espera larga e a agonia dura.

Quando a noite perdura,
a tristeza envolve e a solidão vêm.

Quando a mão é ausente,
o riso de esquecido e o abraço vazio.

Quando a fala é muda,
o olhar perdido e o cheiro se esvai.

Quando a alma se perde...
Quando no silêncio se encontra,
E se vai..

01 setembro 2017

Aperto de saudades...

Ai esta saudade que mata por dentro e devora a minha alma...
Como sonho em fechar os olhos e num passe de magia atravessar os oceanos de distância que separam os corações amigos.
Seria perfeito, por um breve instante, alcançar o infinito para abraçar aqueles que deste mundo se foram.
Poderia nesta existência, haver cura para essa insistente dor. Porém ela é eterna e necessária para despertar todos os dias e viver mais e mais intensamente. Um autêntico alimento de sonhos e esperanças, para nada ser em vão.

20 agosto 2017

Botão...

Era uma vez um botão, que decidiu que de vida iria mudar. Saiu do mundo de plástico que o envolvia e um novo lugar foi procurar. Encontrou uma casa feita à medida, que rodeada de estrelas à noite estava. E sem hesitar, o pequeno botão resolveu ali morar!

31 janeiro 2016

Uma viagem...

Tirei uma caneta da mochila e viajei. 
Viajei para o mais longe que poderia ir dentro de mim. E cheguei lá, onde um denso breu dava a sensação de um enorme vazio. Não se via nada. Nem mesmo os olhos já treinados nas noites sem lua no meio do nada, ajudaram a enxergar um centímetro à frente do meu nariz. 
Som não havia. Pairava um silêncio ensurdecedor. Comecei a ouvir o próprio pestanejar. De nada adiantava isso sem poder enxergar. Resolvi fechar os olhos para aliviar a loucura. E toquei.
Senti tocar algo amorfo, molengo, sem cheiro, sem vida. Forcei mais uma vez a minha visão, mas era inútil tal tentativa. Cresceu uma vontade de não me afastar daquilo, mesmo que fosse objeto desconhecido. 
Sentei. Ou pelo menos tentei. Tornou-se difícil fazer qualquer movimento. Meu corpo congelava gradualmente e os movimentos cada vez menores. 
E tudo parou. 
O silêncio aumentou na mesma proporção da tortura que mesmo o cerrar do olhos não diminuía. E gritei. O mais alto que poderia, mesmo que ninguém ouvisse. O grito desesperado saiu pela goela levando o pouco de alma que ainda restava. Saiu como cuspe e acertou o objeto amorfo. Não consegui ver isso. Não ouvi o impacto. Mas senti um perfume estranho saindo daquele pedaço de coisa, como se houvesse uma reação química desencadeada naquele exato momento. 
O cheiro causou náuseas e não ter movimentos dificultava qualquer atitude para não vomitar. Antes do vômito um único pensamento me inundou - assim é o fim. E meu corpo sentiu o líquido viscoso que saía da boca. As roupas ficaram entranhadas de algo pior que o petróleo. Não haveria salvação para elas além de um depósito de lixo.
O frio parou. Cada gota de vômito, aquecia a pele e devolvia a sensação de poder sair dali o mais breve possível. Escapar daquele lugar era imprescindível se ainda existisse algum neurônio são em mim. Difícil seria encontrar o caminho de volta...
Formou-se uma lama escorregadia sob meus pés e qualquer passo era em vão. Constantes eram os tombos das tentativas de fuga. Até que num dolorido levantei a mão na busca de qualquer ajuda. Senti algo semelhante a uma corda. O cuspe que ora tinha atingido o objeto amorfo, escorreu e solidificou, criando um fio que foi forte o suficiente para me erguer. Resolvi atar a minha cintura com aquilo. E fechei os olhos. Cerrei-os o mais que podia, com as últimas forças que ainda restavam. Não eram muitas, mas as suficientes para conseguir ver novamente a caneta da mochila antes de ter partido...
E desejei não ter viajado. Pois foi assim que faleci.

08 agosto 2015

Mergulho

Foi sem intenção e cerimônia que a forçaram a olhar para trás. Mergulharam o  corpo dela nos anos que se passaram, nas aventuras e nas desilusões. 
Ela ainda se contorceu, se rebelou, mas nada adiantou. Sua cabeça ficou encharcada nos mares do que tinha escrito. Suas mãos tatearam os pensamentos que outrora perambulavam à sua volta. Seus pés não sentiram nenhum ponto firme para se apoiarem, só lhes restou tentarem boiar para que não afundassem num fundo sem fim. 
Foi sem querer e sem culpa que o baú das memórias se abriu num passe de mágica. Cada suspiro que saía embriagava a pobre alma que foi amarrada à frente dele. As cordas eram apertadas demais para era se soltar e ali só via a caixa de Pandora aberta, sem ter volta. Ficaram livres os antigos desejos, os velhos sonhos, as afastadas amizades, as densas caminhadas, os pequenos delírios... 
Desmaiou sem pedir. Ela só queria fugir.

20 maio 2015

Ver...

Fechem os meus olhos. Me vendem

Que passe um frio fino deslizante. Não saberei dizer o que é, apenas sentirei o arrepio como delicada lâmina em mim. 
Que meu corpo possa descobrir o doce sabor do mel. E que do tigre não conheça as garras, mas o calor da força. 
Que a mente conheça o inimaginável mas não se perca das pequenas verdades. 
Que pulse o coração de tal forma que me embale nos grandes e divertidos sonhos, tal forma o vento enrola meus cabelos. 

Não me vendem. Prefiro viver tudo de olhos abertos!

21 abril 2015

Árvore...

Sinto-me despida.
Tal e qual árvore que me espreita pela janela. O frio congela a pele, despe o espírito. O sol, fiel companheiro de todos os dias, brinca com os galhos, mas foge do aquecer. Está ali, raiando os dias mais bonitos. E ela sem forças para o abraçar.
Parece morta. Talvez até tenha vontade de o estar. Porém apenas junta a sua alma para brotar novamente. O vento, música e embalo, mistura nela todos os sentimentos e emoções. Se um passarinho tranquilo pousa no seu ramo mais alto, é capaz de chorar, não saberia dizer de alegria ou tristeza, de lhe poder dar descanso mas não abrigo. Tudo fica exposto. Transparece a mais fina cicatriz do tempo no tronco.
As aranhas se aproveitam disso. Tecem as teias com mais facilidade. São ágeis, têm fome. E o sol exibe suas obras de arte, impressionantes para qualquer bichinho ficar atraído por tamanha beleza.
Ela queria que mais aranhas trabalhassem nela. Talvez suas teias a deixassem num casulo escuro e quente. Ali permaneceria repousando...
Mas há sonhos difíceis de acontecer. E ela sabe disso. Por isso se ergue alto e deixa que o vento a balance. A primavera não deverá tardar...