30 junho 2013

Operação

Eles entraram juntos na UTI. Estavam colados, esse era o problema. E para isso iam ser operados.
Tempos antes haviam juntos saído num bom passeio pelos seus sonhos. Nem repararam na neblina de grude que se encontrava pelo caminho. Distraídos, seguiram em frente, riam e falavam, sorriam e andavam sem dar conta das horas passadas. O grude secou e assim ficaram colados. Agora era necessário operar.
Entraram passivos, serenos e tranquilos na sala de operações. Deitaram no efeito da anestesia, com um sorriso bobo estampado em cada face. Viajaram para os mais longíquos pensamentos... Preciso o cirurgião passa o bisturi calmamente. Separa-os sem dó, nem caridade. Eles nem sentem. O corte certeiro, a sutura cuidadosa, o curativo perfeito. Eles apenas dormem.
Operação terminada e cada um é levado em uma maca. Cada um para o seu quarto, em cada extremo do hospital. Sairão cada um por uma porta, seguirá cada um o seu caminho, tentará cada um a sua rotina. Mas sonhará cada um o mesmo sonho.
Maldito cirurgião que se esqueceu de separar o firmamento! Aquele em que nas estrelas se unem os sentimentos, onde as almas são coladas e os pensamentos sentidos por si só. Agora não há mais solução dissolvedora. Apenas o tempo da ilusão enterrará a poeira de cola deixada para trás... E assim será.