08 agosto 2015

Mergulho

Foi sem intenção e cerimônia que a forçaram a olhar para trás. Mergulharam o  corpo dela nos anos que se passaram, nas aventuras e nas desilusões. 
Ela ainda se contorceu, se rebelou, mas nada adiantou. Sua cabeça ficou encharcada nos mares do que tinha escrito. Suas mãos tatearam os pensamentos que outrora perambulavam à sua volta. Seus pés não sentiram nenhum ponto firme para se apoiarem, só lhes restou tentarem boiar para que não afundassem num fundo sem fim. 
Foi sem querer e sem culpa que o baú das memórias se abriu num passe de mágica. Cada suspiro que saía embriagava a pobre alma que foi amarrada à frente dele. As cordas eram apertadas demais para era se soltar e ali só via a caixa de Pandora aberta, sem ter volta. Ficaram livres os antigos desejos, os velhos sonhos, as afastadas amizades, as densas caminhadas, os pequenos delírios... 
Desmaiou sem pedir. Ela só queria fugir.