23 dezembro 2014

Gaivota

Achei uma gaivota por aí, 
A espiar pela minha janela, 
Quem sabe a enamorar o quente, 
Quem sabe a chamar para o vento.

Fui correndo com ela, 
Pelas ruas estreitas do mundo, 
Quem sabe para livre voar, 
Quem sabe para no mar mergulhar.

Conversei com a gaivota, 
Na imensidão do céu azul, 
Quem sabe para entender a vida, 
Quem sabe para tentar esquecê-la.

Voltei para a janela do quarto, 
Onde havia a encontrado,
Quem sabe mais tranquila, 
Quem sabe mais feliz. 

25 novembro 2014

Era uma vez uma lenda...

A graça da garça se tornar outro bicho
É a lembrança da lenda cair na graça
Ter cria, humor e fantasia,
E assim mudou toda a magia.

13 novembro 2014

Pequenos Tesouros

Apesar de sua denguice devido à febre que teimava ficar nele, num sobressalto saiu correndo animado em direção do quarto. Abriu a porta num rompante e rapidamente localizou no meio do seu mundo de brinquedos o porquinho branco. Ouviu-se o chacoalhar de moedas do pequeno cofrinho plástico, seguido de um silêncio suspeito.
Voltou sorridente de onde acabara estar para o ponto original da corrida.
- Achei uma moeda para o porquinho! Dizia o pequeno exibindo a felicidade de ter encontrado um tesouro.
Estava espreitando a bolsa materna quando localizou aquilo verde. Chamou-lhe suficientemente a atenção para identificar logo que tinha cartões para brincar. Enquanto descobria a gama de cores plásticas do universo adulto, caiu de algum compartimento uma moeda. Eis a descoberta feita! E logo tratou de guardar muito bem o seu novo bem.
O pequeno porém não conseguiu guardar seu pequeno segredo. Confessou tamanha era o seu encantamento com a descoberta a verdadeira quantidade de moedas.
Quatro! E manteve no rosto ainda seu sorriso maroto de que irá aguardar ansioso pela próxima aventura...

10 novembro 2014

Saudade

E a saudade aperta!

Como é terrível essa sensação que não tem como cessar.
Te sinto, mas não tenho a tua presença...

Se ao menos pudesse ouvir a tua voz.
Nem isso... Muito menos um abraço.
A distância é grande demais.

Tudo se mistura, embrulha e dá nó,
daqueles fortes como não sou.
E me debruço em lágrimas da saudade que aperta...
Que não consigo cessar.

31 outubro 2014

Estrela

As estrelas estão tão longe... 

Mas as sinto tão perto, que elas embalam os meus sonhos. 

Me aconchego na vasta imensidão do céu e as ouço contar fantásticas histórias de encantar. 

A liberdade delas cintila de tal modo que seria impossível prendê-las. Assim são felizes. E bailar com elas numa simples melodia é como dançar nas nuvens e não sentir o ar rarefeito do céu. 

Ah! Se eu tivesse asas, as acompanharia em cada passeio delas. Os devaneios seriam um só. E o negro da noite seria mais alegre... 

30 outubro 2014

Sonho

Talvez um sonho não seja um sonho. 
Apenas um pedaço de realidade embutido da esperança de que a dor sentida seja força de mudança.

13 outubro 2014

Gosto de ti...

Era uma relação de repugnância. Ela não suportava café. Todas as vezes que o fazia por dever ou servia por obrigação jurava cheia de convicção que nunca o tomaria.
O aroma lhe trazia náuseas. O aspecto era insuportável. Mas não tinha opção,  todos que a rodeavam eram apreciadores daquela bebida. Tomavam como se fosse água. Usavam-na como se fosse essencial. Dependiam dela como do ar.
Ele não tomava leite. Aquela substância líquida, branca, gordurosa o enjoava. Não por opção, mas o corpo dele o rejeitava de tal forma que qualquer reaproximação era traumática.
Desde pequeno sofrera com isso. Ele, que adorava aquele cheiro, não podia conviver com ele. Era uma tortura qualquer convívio social onde comida fizesse parte do cardápio. O leite sempre se fazia presente.
Se esbarraram por aí, nesses acasos da vida. Nada programado. Tudo sincronizado. E resolveram se desafiar.
Deitaram na mesma cama, olho no olho e ali se fixaram.
Correram dias a fio até o primeiro sinal de cansaço o fizeram pegar um café. A resistência dela foi fraquejando e o cheiro começou a lhe parecer interessante. Hesitou, mas a vontade de permanecer com os olhos abertos foi mais forte. Cedeu. Tomou o temido café. O desafio continuava.
Já era tarde. O frio gelava cada centímetro de roupa e congelava cada pedaço de pele. Ela não aguentou e providenciou um leite tão quente, que ainda se viam as bolhas da fervura. O branco aveludado fazia-o delicioso. Quando se deu conta, ele já havia dado o primeiro gole. Ao mesmo tempo que o leite aqueceu o corpo, o pensamento gelou. Nada aconteceu. Não houveram reações bizarras, adversas, inconvenientes. Algo havia mudado.
Dias e dias se passaram num desafio sem fim. Cada um fraquejava nalgum momento, os dois se reerguiam ao mesmo tempo. Mergulharam num esforço contínuo de se superar, detonando qualquer sentido da razão de estar ali. Apenas estavam e permaneciam.
Houve um rompante de repente que os tirou da estranha situação. Como se tivessem combinado, sem qualquer palavra escolhida, se viraram. Deram uma dúzia de passo em direções opostas. E olharam para trás. Se admiraram mais alguns instantes antes de desaparecerem nas suas vidas.
O tempo lhes foi traiçoeiro diversas vezes e quase parecendo um menino teimoso, os fez reencontrar numa variedade boa de momentos.
Junto às vidas já estavam marcadas de experiências. Os desafios tornaram-se cansativos e perdiam a conta deles. E inverteram os papéis.
O café se tornou-se inseparável para ela. O leite se tornou o vício dele. Juntos vivem nesse eterno café-com-leite.

25 setembro 2014

Noite sonora

Ao som do sax ela, 
Melindrosa tímida
Esboçava um simples bolero
Na roda do vestido florido.

Ao som de um chiado
Enterrado no sofá ele, 
Apático animal devora
Seu sonho de jovialidade.

Ao som do sussurro 
Noite adentro a lua ilumina
Pedaços de vida sentida, 
Resumos extensos de si.

08 setembro 2014

Super Lua

Amo a lua.
No seu brilho, as pequenas imperfeições. 
E ela fica mais nua e sincera assim. 
Transborda nítidas e suaves sensações 
É  bela e misteriosa para mim.

07 setembro 2014

Domingo...

Não é mais como antes. 
É a angústia de de andar espremido, 
A balbúrdia em cada estação 
A ansiedade do destino final.

Ir longe é ir até onde o trilho leva. 
Subir de vida limitasse ao topo da escada. 
São os melhores trajes para logo despi-los.
Andam em bando. Notam-se todos.
Ninguém se vê.

São os gritos, o forduncio, a exibição. 
Tudo se compõe numa viagem pitoresca, 
Tudo se cria numa alegre ilusão.

E aos poucos a vida retorna, 
Aos cantos do lugares além. 
Amanhã é um novo dia, 
Não se sabe o quê era quem.

22 julho 2014

Diário Noturno

Querido diário,

São 0h37 da manhã. É no silêncio da madrugada que encontro tempo para mim. E para ti. No barulho do dia, na agitação do entardecer, no sussurrar do sono consigo ouvir os meus pensamentos. Consigo escrever em ti.
Os meus sonhos acordados se confundem com a embriaguez do sono. Mas tenho lúcidos os meus sentimentos. E é isso que importa. E por isso rabisco as tuas páginas.

Antes de mergulhar em ti, escorreram lágrimas de saudades. Daquelas que apertam o peito e nos fazem sentir minúsculos... Ah... Quanta saudade daquele homem que me acolhia de tal forma que tudo fazia mais sentido. Faz tempo que ele se foi. Mas o sinto aqui. E o sinto longe. Sei que sabes quem é. Nalgumas páginas para trás constam todas as lágrimas que ninguém viu. O meu sorriso sempre tem de aparecer. E por trás dessa fachada, destruída, te lamentava o dia que uma estrela começou a brilhar mais forte...

Mas não foi isso que vim aqui te contar neste silêncio. Vim contar sobre sorrisos, pois eles devem sempre sobressair mais. Pois é. E por isso resolvi fazer um rascunho de coisas que me fazem sorrir. Afinal, se um dia esquecer de como se sorri, haverá algo para me lembrar. E fazer feliz.

- Cada pôr-do-sol é único e é impossível descrever a sensação relaxante que eles provocam.
- Cada segundo a mais na cama de manhã é energizante. Sem eles o dia se torna infinitamente mais longo.
- Cada taça de vinho enrubece as bochechas. Isso é divertido.
- A inocência dos pequenos faz elevar a alma de tal forma, que não tem como não ser feliz ao lado deles.
- A música, a água, o vento, o sol, a terra, o verde, os pássaros... Toda e qualquer forma de natureza é um espetáculo sem igual. Não existe meio de descrever.

É  tanta coisa que me faz sorrir. Difícil escrever mais agora. O sono já me afoga pela noite. Ficarei por aqui. Que dormirei a sorrir.

Até...

15 julho 2014

Reflexão

Não é o silêncio que provoca a reflexão. 

É o barulho do pulsar do sangue pelo corpo.

É a agitação da alma dentro da mente.

É o turbilhão do sentimento no vazio.

É a bagunça de idéias silenciosas... 

29 junho 2014

Formol

Quem és tu que conservas teus sentimentos imunes ao tempo?
Que julgas atemporal qualquer ação...
Em formol mergulhaste na tentativa de preservar a tua imagem. A que querias.
Mas nada é perfeito! O prazo de validade estava vencido e o resultado foi diferente.

As rugas apareceram e as tuas outras faces também. Os sentimentos se transformaram e as ações também.
Caiu por terra teu sonho louco de que nada muda. E agora...
Quem és realmente agora?

04 junho 2014

Bem menos

Quanto mais, melhor!
Quanto menos, melhor! Ele retrucou à vida. 
Quanto menos problemas, preocupações, coisas chatas, dias cinzentos... Muito melhor! 
E seguiu sorrindo cada vez mais.

23 maio 2014

Bailado

Bailarina pequenina
Cheia de graça, falta de nada.

Pele negra, sorriso espontâneo
Collan de nome, saia improvisada

E ela bailava no balanço do trem
Indo à aula de sonhos
Não pensa em mais nada. 

15 abril 2014

Ontem

Ontem estava ali,
Hoje não está mais.
Ontem tudo era normal,
Hoje não é mais.
Ontem existia o amanhã,
Hoje não existirá jamais.

12 abril 2014

Saberá...

Terá um tesouro escondido aí dentro
Onde é escuro e o sussurro é vento?

Será um paraíso secreto 
Essa alma fechada por decreto?

Será uma guerra silenciosa
Onde a vida desenrola ociosa?

Terá luz o segredo trancado
Num soluço de inspiração encontrado?

Terá uma vida escondida no tesouro sagrado
Num silêncio ocioso lacrado por uma guerra secreta
Decretada por uma alma inspirada
No vento do paraíso encontrado?

09 abril 2014

Além

Sorrisos e abraços e paixões 
Esperanças vivas ilusões. 
Fascínio alegria de outrém
Paz da alma que convém.

Choros, despedidas e saudações 
Fortes corpos corações. 
Sentido encontro ir além 
Caminho tranquilo dalguém.

01 abril 2014

Escuro

Breu meu da minha mente 
Escuridão da esguia alma
Foge, dia que raia agora
Volta manso com o sol poente.

Que descanse em paz a dor que sente
O corpo cansado que em pé se ergue, 
Tateia o ar,  frio cortante
Repousa a noite que te envolve.

21 março 2014

Quem é ela?

Quem é essa de unhas vermelhas
Cabelo escorrido em tons de amarelo? 
Quem é essa de olhos castanhos 
Com pernas esguias e pele manchada? 
É ela que pinta na dança e borra a rua enquanto desfila. 
Colore as nuvens de rosa e o sol de laranja, 
Desenha o mundo redondo esverdeado. 
Sacode a tela da terra escura, 
Clareia o sonho de qualquer paleta... 
É ela.

19 março 2014

Música escrita

Queria poder ouvir a música das soltas palavras, 
Adormecer nas melodia das letras unidas, Chorar no silêncio das pequenas pausas.

Queria cantar no sussurro do texto, 
Sentir o calor de todos os parênteses, 
Esquecer o mundo em cada nota nova.

Dançar com as aspas e apóstrofos, 
Gritar sem medo e reticências, 
Fugir de qualquer ponto final.

Ao som de cada frase, 
No embalar dos longos parágrafos... 
Como gostaria. Como gostaria.

13 março 2014

O presente

Havia chegado o dia. O embrulho inquieto chamava a atenção da casa. No meio de todos os presentes embaixo da árvore, aquele se destacava pelo seu tamanho e movimentos. Começaram a abrir um por um, até chegar a vez do qual todos estavam curiosos por ver.
Era para ela, que desembrulhou  cuidadosamente por medo ou delicadeza. De dentro da caixa brotou um galo. Um galo... Ela se perguntava o porquê. Olhou bem fixo nos olhos dele esperando uma resposta esclarecedora. "Dourado! Surpreendente, não?!".
Ele vira o galo na última ida à Bulgária, se encantou por ele de tal forma que procurou algum pretexto para o levar consigo. A justificativa era o seu canto: kurikukuri! Que, jurava de pés juntos, escondia palavras de amor. A partir dali, todas as manhãs seriam embebidas numa sifonia quase perfeita ao som do canto do galo.
Não convenceu. A casa era pequena demais e não havia quintal. O pobre bicho ciscava as camas e corria atrás do cão pensando se tratar de uma galinha. A rotina estava de pernas para o ar.  Aos poucos ela dava sinais de loucura, enquanto ele pávido e sereno permanecia. O galo era fantástico demais para ter defeitos. Foi quando os dela começaram a aumentar. Se tornou implicante, chata, mal-humorada, rabugenta... E a lista só crescia.
Certa manhã, com um olhar apático ela levantou ao som do "kurikukuri", olhou para o seu companheiro, disse as mais belas palavras de amor, afirmando ser. tradução do cantar do galo daquele momento. Saiu para passear o galo de estimação nas redondezas da casa, como de costume, sob olhares curiosos da vizinhança. Teve um dia agitado, como qualquer outro de trabalho. Resolveu convidar uns amigos para jantar, o que se esmerou nos pratos servidos recebendo sinceros elogios sobre eles. Adormeceu num piscar de olhos. E acordou num sobressalto ao som de um grito. " Ahhhh! Eu comi-o!".
O sol já raiava alto e nem mais um pio se ouvia. Ela se ajeitara melhor no travesseiro, sorriu-lhe ironicamente e voltou a dormir.

11 março 2014

O sapato velho

E ele caminhava solitário na beira da estrada. Percorria quilômetros sem qualquer perspectiva de onde queria chegar, do que iria encontrar, do que precisava comer. Apenas andava. E nada mais. 

Começou a perceber o quão poderoso era o sapato que usava. Não importava o solo irregular, a lama, o sol escaldante, a areia irritante. O sapato não dava sinais de desgaste. Ele continuava trilhando e seus pés de sentiam mais confortáveis, a Terra lhe parecia mais aconchegante. 

Acompanhou o curso do riacho aproveitando o frescor da água no caminhar. Se equilibrou firme no trilho do comboio e se aqueceu no asfalto durante os entardeceres. Contou centenas de vezes as milhares estrelas do infinito firmamento, beijou as flores das mais variadas belezas, comeu os tons vivos dos pomares por onde passava. 

Até que cego sentou. Esticou suas pernas e adormeceu eternamente. As pessoas o viam ali, estirado no chão, se compadeciam da cena: um homem com sapatos velhos,  rasgados em fiapos, exibindo seus pés andarilhos maltratados em carne viva, dormia tranquilo num semblante feliz.