08 agosto 2013

Caneta tinteiro

Ele escrevia. E ela só observava.
Com aquela letra pequena e com uma definição artística os espaços eram preenchidos com qualquer que fosse o conjunto de letras. As palavras eram quadros que compunham um museu de recados. E ela admirava cada exposição compenetrada.
Contida na caneta, a tinta preta, quase como sagrada para a escrita, ia para o papel com fluidez tal qual rio que corta silenciosamente a vegetação fechada. Apenas corre e nada mais. Ela tentava imitar. Mas o cuidado que ele tinha era impecável, já as mãos delas contavam a história oposta. Sua pele ficava tingida e nos papéis borrões não se liam. Era boa aquela sensação.
Nas folhas registradas, assinaturas bem marcadas, como céu em noite de lua sorridente. Uma escultura miúda com muito para contar. Quantas canetas puderam ouvir? Ela nunca conseguiu reproduzir. Só restava gostar.
A paixão da caneta passou por osmose. A tinta corre agora por outros veios. Ela escreve...
Ele não mais.

Nenhum comentário: