13 março 2014

O presente

Havia chegado o dia. O embrulho inquieto chamava a atenção da casa. No meio de todos os presentes embaixo da árvore, aquele se destacava pelo seu tamanho e movimentos. Começaram a abrir um por um, até chegar a vez do qual todos estavam curiosos por ver.
Era para ela, que desembrulhou  cuidadosamente por medo ou delicadeza. De dentro da caixa brotou um galo. Um galo... Ela se perguntava o porquê. Olhou bem fixo nos olhos dele esperando uma resposta esclarecedora. "Dourado! Surpreendente, não?!".
Ele vira o galo na última ida à Bulgária, se encantou por ele de tal forma que procurou algum pretexto para o levar consigo. A justificativa era o seu canto: kurikukuri! Que, jurava de pés juntos, escondia palavras de amor. A partir dali, todas as manhãs seriam embebidas numa sifonia quase perfeita ao som do canto do galo.
Não convenceu. A casa era pequena demais e não havia quintal. O pobre bicho ciscava as camas e corria atrás do cão pensando se tratar de uma galinha. A rotina estava de pernas para o ar.  Aos poucos ela dava sinais de loucura, enquanto ele pávido e sereno permanecia. O galo era fantástico demais para ter defeitos. Foi quando os dela começaram a aumentar. Se tornou implicante, chata, mal-humorada, rabugenta... E a lista só crescia.
Certa manhã, com um olhar apático ela levantou ao som do "kurikukuri", olhou para o seu companheiro, disse as mais belas palavras de amor, afirmando ser. tradução do cantar do galo daquele momento. Saiu para passear o galo de estimação nas redondezas da casa, como de costume, sob olhares curiosos da vizinhança. Teve um dia agitado, como qualquer outro de trabalho. Resolveu convidar uns amigos para jantar, o que se esmerou nos pratos servidos recebendo sinceros elogios sobre eles. Adormeceu num piscar de olhos. E acordou num sobressalto ao som de um grito. " Ahhhh! Eu comi-o!".
O sol já raiava alto e nem mais um pio se ouvia. Ela se ajeitara melhor no travesseiro, sorriu-lhe ironicamente e voltou a dormir.

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