11 março 2014

O sapato velho

E ele caminhava solitário na beira da estrada. Percorria quilômetros sem qualquer perspectiva de onde queria chegar, do que iria encontrar, do que precisava comer. Apenas andava. E nada mais. 

Começou a perceber o quão poderoso era o sapato que usava. Não importava o solo irregular, a lama, o sol escaldante, a areia irritante. O sapato não dava sinais de desgaste. Ele continuava trilhando e seus pés de sentiam mais confortáveis, a Terra lhe parecia mais aconchegante. 

Acompanhou o curso do riacho aproveitando o frescor da água no caminhar. Se equilibrou firme no trilho do comboio e se aqueceu no asfalto durante os entardeceres. Contou centenas de vezes as milhares estrelas do infinito firmamento, beijou as flores das mais variadas belezas, comeu os tons vivos dos pomares por onde passava. 

Até que cego sentou. Esticou suas pernas e adormeceu eternamente. As pessoas o viam ali, estirado no chão, se compadeciam da cena: um homem com sapatos velhos,  rasgados em fiapos, exibindo seus pés andarilhos maltratados em carne viva, dormia tranquilo num semblante feliz.

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